Histórias de Moradores da Santa Cecília

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores do bairro.


História do Morador: Roland Marinho Sierra
Local: São Paulo
Publicado em: 05/12/2012

História: De copy desk a editora

 

Sinopse:

Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, a vida de Roland foi em São Paulo. Mudou-se cedo e conheceu a fundo o bairro de Santa Cecília em um tempo em que muitos imigrantes judeus moravam por lá, e a cidade não tinha muitos prédios. Sendo irmão do meio, conviveu com seus dois irmãos, que vieram a falecer mais tarde, de modo intenso, cada um mostrando para Roland uma personalidade possível diante da vida. Depois de formado, prestou um concurso e entrou para trabalhar na Folha de São Paulo. Logo se tornou editor de política e por lá ficou até se aposentar. Conheceu muitos bastidores de histórias dos momentos mais revoltosos do país, e sua memória ainda guarda as lembranças de maneira vívida.

História
:

Eles me chamaram da Folha de São Paulo e disseram: “Durante seis meses você vai ser copy desk”, já tava naquela fase de falar mais inglês. Copy desk é o redator, uma espécie de revisor de luxo. Só. “Você vai ser copy desk das sete da manhã ao meio-dia”. Eu falei: “ôo, mas eu faço um exame tão brilhante, tão bonito, sou aprovado no meio de dois mil, e tem que entrar sete horas da manhã?” Ainda bem que eu morava ali na Santa Cecília, na Rua das Palmeiras, e era pertinho da Folha.

Mas não me agradou. Eu tinha que ficar lá até meio-dia, ninguém sabia inglês, então, tive que dar um radiofoto pra traduzir. Eu era explorado, mas recebia em dinheiro. A Folha sempre pagou em dinheiro. E num certo momento, um sujeito que era o editor de Política, era um judeu que ficou meu amigo. Eu tomei o lugar dele, mas ficou meu amigo, ele já morreu. Ele era o editor, mas não tinha nenhum pique pra ser editor de Política, não tinha nenhuma empatia com política, ele não gostava. E eu gostava, eu falava: “não vou ficar sentado aqui traduzindo telefoto de navio que afundou, não tenho nada com isso aqui”. Pensei que fosse ser o intelectual, Chateaubriand, sei lá, mas pra fazer tradução de texto não vou... Ele falou: “Não, o Iagri vai embora. Você não quer ser editor?”. Eu falei: “Opa, quero” “Você vai ganhar em dobro, você para de vir de manhã, nós queremos o seu tempo integral, você vai por paletó e gravata, você vai por roupa de gente. Você vai fazer a Câmara Municipal de São Paulo para a Folha de São Paulo.

Assim como tem uma que faz a Assembleia, tem um que faz o Palácio, você vai fazer a Câmara Municipal. Topa?” “Topo. Nessas condições topo. Vocês vão dobrar o meu salário, eu vou por uma roupinha melhor, e não preciso trabalhar sábado e domingo, é pra mim mesmo”. E deu certo. Depois que aconteceu isso, depois de um ano ou dois, eu comecei a me dedicar à Política. Aí, eu falei: “A Câmara Municipal não me interessa, Câmara Municipal é coisa pra principiante”. Aí, eu já estava com a cabeça cheia de ideia ‘é coisa pra principiante, eu não sou principiante, eu sou um profissional do ramo, eu quero ser editor’. E fui editor. E fiquei 30 anos lá.

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